Como destruir seu Ministério em 7 passos!

O título parece tirado de algum manual de auto-ajuda, desses que fazem sucesso no mercado evangélico atual. Perdoem-me os leitores habituais deste blog, mas não resisti à tentação de usar um título assim. Na verdade, queremos gastar algum tempo meditando no reinado de Saul, conforme o relato de I Samuel, e na forma como começou tão bem e terminou tão mau.

Saul foi a resposta dada ao povo de Israel quando pediram a Deus um Rei. Era fisicamente portentoso. Foi escolhido e ungido por Deus (10:24) e começou bem, cheio do Espírito Santo e com uma vitória esmagadora sobre os amonitas (11:6 e 11). Mas logo o vemos decaindo e se tornando um estorvo para o desenvolvimento do povo. Analisa sua queda e aprenda como destruir um ministério em apenas 7 passos!

1) TENTANDO MELHORAR O PLANO DE DEUS
Saul era um indivíduo pouco paciente. Era dado a rompantes de mau humor e isso lhe custou bastante caro. A certa altura não quis esperar pelo sacrifício. Sabia que a ordem clara de Deus era que apenas os sacerdotes podiam oferecer os sacrifícios. Mas ele não quis esperar. Era Rei e podia "melhorar" o plano de Deus. Então ofereceu ele mesmo o holocausto (13:9) apenas para ver chegar Samuel logo a seguir e repreende-lo publicamente.

Pouco depois o Senhor ainda lhe dá outra oportunidade ao orientar a destruição dos Amalequitas. As ordens foram explícitas, mas Saul achou que podia fazer melhor e guardou os animais para um sacrifício (15:9 e 21). Ele queria adorar, mas do seu jeito. Achava que podia melhorar o que Deus estabelecera. Eis um passo garantido para fazer cair um ministério.

Há diretrizes muito claras na Palavra. A responsabilidade primeira dos servos de Deus é para com ELE e sua palavra. Não há ciência humana válida quando suas diretrizes são contrárias à Palavra. Não temos como "melhorar" o plano do Senhor. Temos é que conhecê-lo e obedecer, ou veremos nosso ministério cair.

2) PREOCUPANDO-SE COM O QUE OS OUTROS PENSAM
Saul preocupava-se demasiado com a aprovação do povo. Cedeu ao povo na separação dos animais dos Amalequitas (15:21 e 24). Em vez de obedecer o que sabia ser o certo, temeu o povo e sua opinião. Depois, ao ser rejeitado por Deus e pela palavra dura de Samuel, em vez de se arrepender e cair em contrição (como Davi irá fazer mais tarde ao errar) ele continua preocupado com livrar a face diante dos anciãos (15:30). Estava tão preocupado em ouvir a voz do povo que vai simplesmente deixa de ouvir a voz de Deus.

O ministro precisa ser capaz de estar suficientemente próximo do povo para poder ouvi-lo, mas não pode se deixar levar pelo populismo. Temos que ouvir aqueles a quem ministramos, mas não podemos deixar que essas opiniões guiem nosso trabalho. A vida é curta e a opinião pública demasiado volátil para nos deixarmos guiar pelo que os outros pensam. A única opinião realmente importante é a do Senhor. Ouçamos, avaliemos, mas roguemos o discernimento para ser guiados pelo Espírito e não a carne. O ditado que diz que "a voz do povo é a voz de Deus" é espúrio e não se encontra na Bíblia.

3) FUGINDO DE SUAS RESPONSABILIDADES
Quando o povo pediu um rei uma das principais razões era ter um líder que os dirigisse em batalha (8:20). Queriam ter, como os outros povos, um campeão que os liderasse em guerra. Logo, Saul tinha essa responsabilidade. Quando Golias, o gigante de Gate desafiou Israel (17:8) o desafio era em primeiro lugar para Saul e ele fugiu de sua responsabilidade. Tremeu e temeu (17:11) e tentou escapar prometendo mundos e fundos a quem enfrentasse o gigante (17:25). Fora eleito para isso mas não assumiu!
No ministério há tarefas que não agradam. Algumas fazemos com mais facilidade e prazer pois tem a ver com nossos dons e talentos. Outras são mais difíceis mas igualmente necessárias. Aquela visita incómoda, aquele aconselhamento cansativo, aquela situação que pode até trazer medo e insegurança também faz parte do ministério e não podemos fugir. Deixar de assumir nossas responsabilidades é passo certo para destruir nosso ministério.

4) IMPONDO AOS OUTROS SUAS ESTRATÉGIAS
Saul não somente não assumia o que era seu dever assumir como queria dizer aos outros como fazer seu trabalho. Quando Davi se dispõe a corajosamente enfrentar o inimigo que Saul temia, este tentou lhe impor sua armadura (17:38). Era evidente para qualquer que olhasse que eles tinham estaturas diferentes, corpo diferente. Como poderia Davi lutar com a armadura de Saul? Seria o orgulho de depois dizer que o jovem vencera usando suas armas? Seria a consciência pesada sabendo que era ele que devia ir lutar?
O Senhor não abençoa armaduras, abençoa pessoas. ELE não abençoa estratégias, planos, métodos, abençoa homens e mulheres submissos. Não interessa se um plano foi provado e funcionou anteriormente. Pode ser maravilhoso! A questão não é essa e sim; "será o caminho de Deus nesta situação?" Muitas vezes a tentativa de impor sobre os outros nossos próprios planos apenas mostra nossa fraqueza e a incapacidade de perceber que o Espírito não habita em estratégias feitas por mentes de homens. ELE pode até dar a estratégia, mas a visão tem que ser individual e própria para o momento, o local e as pessoas. Para Davi era simplesmente uma funda e 5 pedrinhas.

5) INVEJANDO OUTROS MINISTÉRIOS
Davi foi bem sucedido em tudo que fazia. Seu "ministério" floresceu e logo Saul passou a invejá-lo mortalmente (18:8). Invejava o sucesso de Davi, a aprovação da multidão, as palavras elogiosas que eram dirigidas ao jovem. Tudo em Davi passou a ser odioso para ele até ficar completamente cego de ciúme, deixar de governar para perseguir o outro. Destruiu assim seu reinado facilitando a tomada de posição dos filisteus.

Tristemente vemos isso refletido em nosso meio. Parece que só conseguimos apreciar ministérios grandes e populares. Olhamos para os números! Não há nada de errado com números, mas, o certo é que revelam pouco. Há muitas maneiras de se obter números e nem todas são de Deus. A mentalidade que valoriza apenas ministérios grandes é a mesma que se impressiona com Golias, vendo apenas o tamanho.

Daí o pastor cuja igreja não cresce, em vez de se humilhar e buscar ao Senhor para saber o que fazer , passa a fazer uma campanha contra o outro ministério, procurando as suas possíveis falhas. E, é claro que as encontrará. Não é difícil, todos os ministérios têm pontos menos positivos. Mas não foi para isso que fomos chamados. Não fomos eleitos para ficarmos criticando ou lutando contra outros ministérios. Esse tipo de inveja tem destruído congregações, separado igrejas e esgotado servos que poderiam ser bênção.

Se outro é abençoado, devo louvar e aprender. Louvar por vidas que estão sendo alcançadas e pelo agir do Espírito. Aprender com o que há de certo, de inspirativo, de exemplar. Não é copiar. Copiar é trabalho de máquina de fotocópias. Mas podemos e devemos observar e ver o que de bom posso aplicar a minha vida e trabalho.

6) DISCIPLINANDO ERRADAMENTE
Este ponto está intimamente ligado ao anterior. A inveja do sucesso de Davi vai levar Saul a uma de suas maiores atrocidades. Movido pelo ciúme e levado pela intriga vai matar os sacerdotes de Nobe (Cap. 22). Esse ato de disciplina extremo é movido pela denúncia de um homem mau, aproveitador e oportunista (Doegue) e será uma das maiores manchas do reinado de Saul. Foi uma disciplina motivada por ciúme e descontentamento e nada teve a ver com as verdadeiras razões para uma disciplina.

A disciplina faz parte da vida da igreja e de qualquer ministério. Feita cuidadosamente, é um ato de amor à igreja e aos crentes, bem como ao próprio infrator porque tem como alvo final a sua recuperação. Trata-se de algo necessário e útil à vida da igreja.

Infelizmente, muitas vezes a disciplina eclesiástica é usada para afastar pessoas vistas como concorrentes ou membros que mostrem discordar de certas linhas tomadas pelo ministério. Por vezes, surge motivada por denúncias falsas ou mal intencionadas, não devidamente verificadas e nesses casos demonstra falta de segurança do ministro. A disciplina feita a pensar no cargo é sempre um péssimo princípio e um passo no caminho da destruição do ministério.

7) RECORRENDO A QUALQUER ARTIFÍCIO
PARA FICAR NO TOPO
Saul errou tanto, desprezou tanto o governo, que o fim tinha que chegar sem apelação. Os Filisteus percebendo sua fraqueza e sabendo que não contava com seu mais precioso elemento (Davi) lançaram novo ataque que prometia ser fatal para Israel ou pelo menos para o reinado. Saul desespera. Presente que não vai escapar desta investida e recorre a uma feiticeira em Endor (cap. 28). Aqui não cabe uma discussão sobre o que acontece nesse episódio. A verdade que quero realçar é que Saul recorre a um artifício que sabia ser contrário à vontade de Deus. Ele mesmo expulsara os feiticeiros da terra (28:9), mas agora recorre a uma. Medida que só poderia acabar como acabou, com sua morte na batalha seguinte.

Os ministérios são como tudo na vida. Têm princípio, meio e fim. Saber acabar é tão importante quanto saber começar e crescer. Infelizmente, algo comum na vida espiritual é começar bem e acabar mal. Por vezes, verifica-se que para se manter num cargo ou ministério o ministro recorre a artimanhas que provavelmente denunciou anteriormente. Isso é sinal de que as coisas estão muito mal e se perdeu de vista a obra de Deus e a importância da igreja.

Quando contrastamos a naturalidade com que Davi passou seu reinado e morreu em paz com a agonia de Saul no campo de batalha fica mais uma vez patente porque o salmista era um homem segundo o coração de Deus. Encarar com naturalidade o fim de um ministério faz parte da maturidade desejada nos servos do Senhor. Louvo a Deus por líderes que tenho conhecido e que souberam sair bem, delegando responsabilidades e passando o ministério na hora certa de Deus.

Conclusão: Saul fica como um triste testemunho do que não deve ser feito. Como tantos outros reis, ele começou bem e terminou mal. Outros exemplos como Salomão ou Uzias servem de alerta. Que estes passos possam ser evitados por nós em nossa caminhada no serviço do Senhor.

2 comentários:

Ida disse...

Este título não é o estilo do Joed, mas achei super criativo, pois ao estudar a vida de Saul não imaginamos desta maneira. Enriquece!

Anônimo disse...

Pr. Joed, obrigada por mais essa reflexão!
Sabe, se agradeço, é porque gosto - sempre - daquilo que o Pastor escreve; umas vezes vem de encontro às inúmeras dúvidas que tenho; outras são situações que gostaria de saber verbalizar e não sei e o Pastor o faz tão bem e ainda outras vezes as reflexões dizem respeito à vida e à conduta de cada pessoa como crente e nessas ocasiões, acredite que até me engasgo! Verdade! Parece que o Pastor mandou o recado exclusivamente para mim.
É por isso que agradeço. Não só porque Deus dá ao Pastor uma enorme capacidade de observação, como, em resultado dessas observações, inspira-o a escrever como vem fazendo.
E, acho eu, é assim que Deus age na minha e na vida de muitas pessoas.
O difícil, sabe, não é ser 'boa pessoa', mas sim ser bom crente, fiel e digno de ser chamado Filho, nesse mundo em que vivemos. Isso não é uma desculpa que justifique seja o que for, é só uma observação.
Que venham ainda muitas reflexões e que elas nos ajudem. E que Deus continue a abençoar-vos grandemente.
LS

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